terça-feira, 25 de março de 2014

ECONOMIA: Dólar cai a R$ 2,30 e Bolsa mantém ganho após S&P rebaixar nota do Brasil

De OGLOBO.COM.BR
JOÃO SORIMA NETO (EMAIL)

Analistas avaliam que corte na nota de crédito já estava ‘precificado’ pelo mercado
SÃO PAULO - Um dia depois de o Brasil ter a nota de crédito rebaixada de BBB para BBB- pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, o dólar comercial se mantém em queda e a Bolsa de Valores sobe. Às 16h09m, a moeda americana se desvalorizava 0,68% cotada a R$ 2,304 na compra e R$ 2,306 na venda. É a menor cotação do dólar desde o dia 26 de novembro passado, quando a divisa fechou a R$ 2,29. Na mínima do dia, a moeda caiu a R$ 2,300 (queda de 0,94%) e na máxima foi negociada a R$ 2,332 (alta de 0,43%).
- O fluxo de recursos para o país e os leilões do Banco Central ajudam a derrubar a cotação da moeda americana. No exterior, a expectativa de que o governo chinês adote medidas de estímulo à economia também fazem o dólar perder força frente a moedas de países ligados a commodities - diz João Paulo de Gracia Correia, gerente de câmbio da Correparti.
No mercado de câmbio, o Banco Central voltou a fazer intervenções nesta terça. Pela manhã, vendeu 4 mil novos contratos de swap cambial tradicional, totalizando US$ 198 milhões. Essa operação equivale a uma oferta de dólares no mercado futuro. Em seguida, rolou mais 10 mil papéis do mesmo tipo, que vencem abril.
Bolsa sobe; ações da Petrobras se desvalorizam
Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o principal índice do mercado de ações (Ibovespa) se mantém em alta desde a abertura. Às 16h12m, o índice se valorizava 0,43% aos 48.198 pontos e volume negociado de R$ 4,5 bilhões. É o sétimo pregão consecutivo de alta do Ibovespa.
O clima mais ameno no exterior, com Bolsas europeias e americanas em alta, favorece o pregão brasileiro. De acordo com analistas, recursos de investidores estrangeiros, que aproveitam para comprar papéis que ficaram baratos, também estão chegando ao país e ajudam nesse rally de alta da Bolsa.
O saldo de investimento estrangeiro na BM&FBovespa está positivo em R$ 1,020 bilhão em março, até o dia 21. O valor é resultado de R$ 43,406 bilhões em compras e de R$ 42,386 bilhões em vendas de ações pelos estrangeiro. Em fevereiro, o saldo de investimento estrangeiro na BM&FBovespa ficou positivo em R$ 1,288 bilhão.
No mercado de juros futuros, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) mais longos estão em queda. Nos contratos com vencimento em janeiro de 2017, a taxa recuava de 12,63% para 12,61%, enquanto no contrato com vencimento em janeiro de 2015, há uma leve alta de de 11,15% para 11,16%.
Para o estrategista da corretora SLW, Pedro Galdi, o mercado reage de forma serena ao rebaixamento, considerando que os investidores já esperavam essa decisão, embora não acreditassem que ela acontecesse duas semanas depois da equipe da S&P ter visitado o Brasil.
- A expectativa era de que os técnicos da S&P esperassem pelo menos os números fiscais do primeiro trimestre, depois de o governo ter anunciando recentemente um contingenciamento de R$ 44 bilhões no Orçamento e um superávit primário de 1,9% do PIB neste ano para tentar recuperar sua credibilidade no capítulo fiscal. Mesmo assim, o mercado já vinha embutindo no preço dos ativos a possibilidade do rebaixamento e sua reação mostra que o corte estava precificado - diz Galdi.
Para ele, o fato positivo é que o Brasil não perdeu o chamado grau de investimento, um selo de qualidade dado por estas agências, que é observado pelos investidores de todo o mundo. Isso freia uma reação mais negativa da Bolsa. Na prática, diz Galdi, a S&P sinalizou que não acontecerão novos rebaixamentos no curto prazo.
- Não acredito em saída de dólares do país. As empresas poderão ter que pagar um juro um pouco mais alto para captar recursos no exterior, mas o fato é que o país não perdeu o grau de investimento. Se tivesse perdido esse nível e caído ao grau especulativo, aí sim a reação do mercado financeiro seria muito negativa - avalia Galdi.
O economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, avalia que o mercado está ‘ignorando’ o rebaixamento da nota do país porque já tinha embutido esse movimento no preço dos ativos. Basta lembrar que a Bolsa caiu ao patamar dos 45 mil pontos recentemente. Mas esperava-se que a queda na nota do país ocorresse apenas no fim do primeiro semestre.
- O fato de manter a perspectiva estável para o país, deu uma chance ao governo de melhorar o quadro fiscal, esforçar-se para cumprir o superávit de 1,9% do PIB prometido, sem artifícios, até ter uma sinalização de retorno à nota BBB. Surpresa negativa seria ter uma mudança na perspectiva de estável para negativa às vésperas das eleições - diz o economista da SulAmérica.
Os analistas Stephen Graham e Fernando Siqueira do Citi observam em relatório que uma dúvida que ainda deve preocupar os mercados após o rebaixamento é em relação ao comprometimento do governo federal com as novas metas fiscais. para eles, ao deixar de ser uma ameaça e se tornar realidade, o rebaixamento poderia diminuir o comprometimento fiscal do governo.
"O aperto monetário moderado prometido para este ano parecia encorajador, considerando o ano de eleições. Com a pressão da S&P retirada, há que se ver se o governo Rousseff ainda terá estômago para arriscar, antes de outubro, votar desagradáveis altas de juros, cortes de gastos ou difíceis negociações com aliados políticos.”
”O rebaixamento já era esperado por todo o mercado, mas a surpresa ficou por conta do prazo. Após o anúncio do governo de meta de superávit primário de 1,9% do PIB e o contingenciamento do Orçamento em R$ 44 bilhões, esperava-se o rebaixamento para o período eleitoral ou início do próximo ano”, diz em nota divulgada nesta manhã o analista William Castro Alves, da XP Investimentos.
Ações da Petrobras de valorizam
A Standard & Poor's rebaixou também rebaixou os ratings de crédito em moeda estrangeira das estatais Petrobras e Eletrobras de 'BBB' para 'BBB-'. As ações da Petrobras abriram em queda, inverteram o sinal e subiram, e agora estão praticamente estáveis: os papéis preferenciais sobem 0,69% a R$ 14,50, enquanto as ações ordinárias ganham 0,78% a R$ 14,06. Já as ações preferenciais Classe B da Eletrobras caem 2,59% a R$ 10,16, enquanto os papéis ordinários recuam 2,53% a R$ 5,78.
"Em razão de nossa expectativa de ajuda do governo, esperamos que os ratings da Petrobras e da Eletrobras continuem se movimentando junto do rating soberano", afirmou a S&P.
Entre as demais blue chips, os papéis preferenciais da Vale sobem 1,58% a R$ 27,60, com perspectivas positivas para economia da China. As preferenciais do Itaú Unibanco têm alta de 1,08% a R$ 32,65 e as PN do Bradesco apresentam ganho de 0,89% a R$ 29,29.
Decisão da S&P surpreendeu o mercado
O professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e economista da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo, esperava que o rebaixamento do rating de longo prazo do Brasil acontecesse apenas no segundo trimestre do ano. Para ele, entretanto, a situação da economia brasileira já apresentava os sintomas de que isso aconteceria de qualquer forma.
- A questão fiscal do país era um dos pontos que mais preocupava. O governo anunciou um superávit primário de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB), que dificilmente será cumprido com um crescimento econômico de apenas 1%, como prevê o mercado. Nos bancos estatais, a concessão de crédito vem crescendo a uma taxa mais forte do que nos bancos privados. Isso pode se tornar um problema no futuro. O governo segura os preços administrados e cria uma inflação reprimida. Na questão da energia, por exemplo, há muita incerteza e não se sabe exatamente como o governo vai repassar recursos às distribuidoras para compensar as perdas. A conta de luz só vai subir em 2015. Com a Petrobras é a mesma coisa, já que o preço dos combustíveis não é reajustado para se igualar ao mercado internacional - diz Camargo.
Ele lembra ainda que o déficit da Previdência Social é subestimado, o que poderá causar mais impacto no caixa do governo.
Para Camargo, o fato de a S&P ter mantido a perspectiva do Brasil estável foi 'menos pior' do que se esperava.
- Ou seja, antes de perder o grau de investimento, a S&P deu um sinal para que o governo reaja - afirma Camargo.

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