sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

CIDADES: Ambulantes terão que deixar Avenida Sete até dia 18 de fevereiro

Do CORREIO
Alexandro Mota (alexandro.mota@redebahia.com.br)

Cerca de 500 vendedores terão que sair da região. Entre 800 e mil vão ocupar transversais
No meio do caminho tinha uma barraca de camelô. Mas a partir do dia 18 de fevereiro essa é uma realidade que vai ficar no passado da Avenida Sete de Setembro, principal centro de comércio de rua da cidade. Pelo menos é o que garante a prefeitura de Salvador.
No entorno da Avenida Sete, há atualmente 800 postos de trabalho autorizados pela prefeitura para atuação de camelôs. A administração municipal estuda a ampliação de mais 200 licenças. Porém, segundo estimativa da secretária de Ordem Pública (Semop), Rosemma Maluf, trabalham hoje na região cerca de 1.500 ambulantes.
Como as contas não batem, e com o desejo da prefeitura de resumir o comércio às ruas transversais, pelo menos 500 ambulantes irregulares devem se preparar para deixar o local no próximo mês. O projeto foi originalmente apresentado em março deste ano.
Avenida Sete já está mais livre, mas prefeitura garante que até 18 de fevereiro não haverá mais sequer um ambulante ocupando a calçada
“Estamos hoje (ontem) fazendo a demarcação das bancas para, na próxima semana, fecharmos um layout do espaço. Isso vai determinar quantas barracas teremos. Acredito que será possível ter mais 200 licenças, somando mil no entorno das transversais (das avenidas) Sete de Setembro, Joana Angélica e Carlos Gomes”, estima Rosemma.
Na Avenida Sete não haverá nenhum vendedor ambulante, já nas praças da Piedade e Barão do Rio Branco (onde fica o Relógio de São Pedro), além do Largo de São Bento, as licenças serão limitadas para lanche, água, acarajé e pipoca.
Para garantir essas mudanças na região, a secretária diz que haverá 50 agentes de fiscalização da Semop, que contarão com o apoio da Guarda Municipal. “Nossa preocupação é com um investimento, único no Brasil, de mais de R$ 5 milhões”.
A ideia é que esses agentes fiscalizem a invasão do espaço dos licenciados, a permanência nos locais proibidos e a depredação dos espaços. A Transalvador também vai atuar impedindo que veículos que estacionam na Zona Azul comercializem produtos expondo-os no porta-malas.
Espaço 
O presidente da Associação de Trabalhadores Informais de Salvador (Assinformal), Arismário Barreto, disse já ter discutido com a prefeitura novos lugares para onde deslocar os ambulantes que não forem contemplados na Avenida Sete. “Vamos tentar descobrir outros locais na cidade que também possam receber esses ambulantes”, disse. Ele, porém, não quis dar detalhes sobre quais locais foram cogitados.
Ontem de manhã, na Rua do Rosário, cuja revitalização já foi concluída, trabalhavam 12 ambulantes. Há 17 anos no espaço, os ambulantes licenciados Arnold Barros, 69 anos, vendedor de miudezas, e Juarez Almeida, 47, que vende exclusivamente óculos de sol, aprovam o novo espaço, mas com ressalvas.
“Só o acabamento que está deixando a desejar”, diz Arnold. Eles desacreditam na redução de ambulantes no local. “O que a gente tem ouvido nas reuniões é que ninguém vai ficar de fora, vai todo mundo ter lugar para trabalhar”, diz Juarez.
Vendas 
A ambulante Antônia Maria Anselmo, 51, pede fiscalização também sobre uma prática que avalia como recorrente. “Tem muito lojista que, além de loja, quer ter banca, aí paga gente para vender na rua seus produtos”. Ela teme a perda das vendas com a mudança do local.
“Eu já trabalhei no Beco de Maria da Paz e na Rua Nova de São Bento e não dá certo. Eu vendo nécessaire que fabrico. É um tipo de produto que o cliente está passando, vê e compra. Se for no beco, ninguém vai lá comprar”.
A priorização para que os pedestres possam usar as calçadas e a possibilidade de maior ordenamento são os principais argumentos para a mudança. “Temos que atender a interesse coletivos. Claro que a Avenida Sete é o file mignon, mas não há como privilegiar um número pequeno e deixar os demais nas transversais, então, todos vão para as tranversais”, afirma Maluf.
Depois de mais de dez anos como camelô pelo Centro, Telma Costa, 45 anos, se tornou cuidadora de idosos. A falta de emprego, no entanto, fez com que ela retomasse no final do ano passado a atividade. Agora, diante das mudanças, ela não sabe o que fazer.
“Eu não admito ir trabalhar em outro lugar que não seja aqui, porque eu moro nos Barris. A prefeitura está melhorando muito a região, mas precisa entender que as pessoas precisam trabalhar”, queixa-se Telma.
De acordo com a Semop, para selecionar os cerca de 200 ambulantes que devem ocupar as novas vagas será usado o critério da antiguidade do pedido de licença, que não era autorizado por conta da falta de espaço. Pessoas como Telma, que ainda não fez esse pedido na Semop, têm poucas chances de permanecer no local, já que, segundo a titular da Semop, mais da metade dos irregulares (cerca de 350) já tem no órgão pedido de autorização para trabalhar e terão prioridade.
Rua do Axé vai concentrar produtos religiosos
Além da Sete Portas e da Feira de São Joaquim, quem quiser comprar material para banhos de folha terá um novo endereço. Ele ainda está para ser definido, mas será a já apelidada Rua do Axé, em uma das transversais da Avenida Sete com a Carlos Gomes — possivelmente o Beco do Mucambinho.
A rua faz parte de um plano de segmentação do comércio no Centro, que não é bem visto pelos comerciantes. “Vai aumentar a concorrência. Já não basta ter mais vendedores na mesma rua, ainda do mesmo segmento”, reclama a vendedora Lorena Mendes, 24 anos, que teme ainda perder a mobilidade de seus produtos: ela vende pisca-pisca no Natal, mochilas na época escolar e está sempre se adaptando à época. 
A secretária Rosemma, no entanto, explica que a mudança de local será opcional. “Isso pode ser usado como uma estratégia de marketing para eles venderem mais, o resto é como funciona a concorrência. Cada um precisa buscar atrativos para se destacar. Essa segmentação já acontece naturalmente. Por exemplo, se você perguntar onde fica a Rua 21 de Abril poucos sabem, mas se perguntar a Rua das Frutas, as pessoas já sabem”, ilustra Rosemma.
Relógio de São Pedro e Largo de São Bento passarão por revitalização
A Fundação Mario Leal Ferreira (FMLF) está realizando o projeto de revitalização das praças Rio Branco (onde fica o Relógio de São Pedro) e o Largo de São Bento. Ambos os espaços estão hoje com calçadas que oferecem riscos ao pedestre, com buracos e vegetação solta.
O local serve para moradia de desabrigados que improvisam entre os monumentos (alguns deles pichados, como a estátua do Barão do Rio Branco e o Relógio de São Pedro, datado de 1916, que não funciona). De acordo com a presidente da fundação, Tânia Scofield, o projeto deve manter o perfil das duas praças.
Uma das mudanças da Praça do Relógio de São Pedro será o piso
“Nós fazemos uma avaliação criteriosa do uso de cada uma delas, valorizando e requalificando os atributos. A de São Bento, por exemplo, é praticamente uma extensão de uma igreja belíssima (o Mosteiro de São Bento). Já na Rio Branco tem alguns idosos que sentam lá, no fim da tarde”, explicou. A proposta, ainda segundo Tânia, é que a reforma dos espaços seja integrada às obras no entorno da Avenida Sete. Uma das principais intervenções será a ampliação das calçadas.
“Temos um comércio muito forte, com um fluxo grande de pessoas, mas os passeios são estreitos. Isso faz com que as pessoas utilizem a própria rua para andar, competindo com os carros. O governo do estado está melhorando a pavimentação e temos conversado com eles, para trabalhar os passeios”, explicou Tânia.
O material, assim como o tamanho da ampliação da calçada, ainda não foi definido, mas todo o espaço contará com piso tátil - faixas em alto relevo colocadas no chão, para ajudar a locomoção de deficientes visuais.
“Isso é exigido para todo passeio, hoje. Temos que garantir acessibilidade para todos”. Além disso, as duas praças contarão com novas ações de paisagismo e implantação de mobiliário urbano como bancos e até mesas, onde for possível. Embora, até então, o projeto não inclua ações específicas nos monumentos, tanto o Relógio de São Pedro quanto a estátua do Barão de Rio Branco devem ser recuperados. “Tudo que for monumento vai ser preservado e valorizado”.

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