sexta-feira, 8 de julho de 2011

ARTIGO: Adeus, Itamar Franco

Do blog do NOBLAT

Por José Dirceu


Peço licença aos leitores para usar este espaço de maneira diversa do que costumo fazer, com avaliações políticas, discussão dos problemas nacionais e reflexões sobre os caminhos que reputo mais adequados ao nosso Brasil. Isso porque, nesta semana, perdemos o presidente Itamar Franco (1992-1995).
Político plural, cujos posicionamentos nos momentos decisivos da história do Brasil nunca seguiram cartilhas, Itamar despertou a urgência do elogio em líderes de inclinações políticas das mais heterogêneas —elogio dedicado, principalmente, a suas notórias lhaneza e transparência à frente dos governos do Brasil e de Minas Gerais, que ocupou com grande desenvoltura.
Destaco, primeiro, sua marcante solidariedade e apoio que me dedicou em todos momentos de dificuldade, relevando-se sempre presente.
Gostaria, porém, de dedicar outro tipo de homenagem ao presidente Itamar Franco. Uma homenagem que, infelizmente, não lhe foi permitida em vida: resgatar, ou ao menos tentar, nas “versões oficiais” da história recente brasileira seu papel no processo de estabilização econômica e social da nova democracia.
Vi poucas menções à ocasião de sua morte, por exemplo, a uma decisão política de Itamar que, talvez, tenha sido a maior de sua carreira: logo após assumir a Presidência da República, na esteira do escândalo que derrubou Fernando Collor de Mello, Itamar instituiu a Comissão Especial de Investigação, um grupo que unia governo e sociedade civil para combater a corrupção e fiscalizar o poder.
O grupo foi pioneiro para, pela primeira vez desde a redemocratização, permitir a inclusão dos trabalhadores, por meio dos sindicatos, no debate sobre a administração pública. Uma semente entre tantas outras que, mais tarde, germinaram nos governos que sucederam o seu.
Além disso, o apoio de Itamar foi essencial para a vitória eleitoral do presidente Lula em 2002. Apesar de ter sido lugar comum da cobertura jornalística das eleições do ano passado, o fato de que não existe campanha presidencial vitoriosa sem passar por Minas Gerais já era verdadeira há nove anos, e Itamar, ao lado do também saudoso Zé Alencar, foi peça fundamental para que o Brasil pudesse dar início à era de mudanças cujos resultados o país começa a desfrutar hoje.
Também é verdade que o papel de Itamar na implementação do Plano Real sempre foi subestimado, tendo sido, como presidente, mais que apenas “fiador” do plano. Itamar sempre foi um político que defendeu a importância das Estatais e o nacionalismo.
Nos últimos anos, como opositor dos governos do PT, Itamar também merece destaque: sempre recorreu a um expediente de enfrentamento transparente e nacionalista em sua militância, distanciando-se da oposição belicosa e da irracionalidade presente nas demais lideranças hoje na oposição.
Itamar deixa um grande exemplo a ser seguido para a prática da política no Brasil. Um exemplo que, esperamos, não seja relegado ao segundo plano.

J
osé Dirceu, 65, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT

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