segunda-feira, 29 de outubro de 2018

ANÁLISE: A responsabilidade de Lula

PEDRO DORIA - OGLOBO.COM.BR 

Quando a ressaca da derrota passar, a esquerda terá de enfrentar um debate interno sério. É sobre a responsabilidade de Lula e dos seus. O ex-presidente, que conta com algo entre 20 e 30% das preferências eleitorais, usou desta influência para sequestrar a campanha desde seu início. Manobrou para que Ciro Gomes não conseguisse montar sua aliança com o PSB. Retardou o lançamento da campanha de Fernando Haddad ao máximo. Quando finalmente chegou ao segundo turno, ele e os lulistas se recusaram a ceder espaço para a construção de uma frente ampla que perdesse a cara petista e se tornasse um espaço onde outras forças pudessem se sentir confortáveis. É sintomático que Ciro e o ex-presidente Fernando Henrique, mesmo tendo demonstrado repulsa à candidatura Bolsonaro, não tenham apoiado oficialmente Haddad. Gatos escaldados, não quiseram se expor a um drible de Lula.
Ainda no sábado, mesmo com plena consciência de que o maior adversário de Haddad era o virulento antipetismo que dominou esta campanha, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, fazia em Curitiba discursos prometendo Lula Livre em caso de vitória. Parecia estar boicotando. Ou vive num universo paralelo.
Ao jogar no tudo ou nada esta campanha, atropelando quem passasse à frente e jogando praticamente sozinho, Lula perdeu. Bolsonaro lhe deve um agradecimento. Resta saber o que o resto da esquerda pensa. Se continuará a tratar o ex-presidente como vítima ou perceberá que o exímio jogador político errou a mão, leu mal o tabuleiro e contribuiu para este resultado.

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