quarta-feira, 6 de maio de 2015

NEGÓCIOS: Preocupação com ajuste fiscal faz Bolsa cair 1,3%; dólar também recua e vale R$ 3,06

OGLOBO.COM.BR
POR ANA PAULA RIBEIRO / RENNAN SETTI

Câmbio acompanha movimento externo após dados sobre a economia dos EUA
- Chris Ratcliffe / Bloomberg News

SÃO PAULO e RIO - O dólar comercial segue o movimento do mercado externo e se mantém em queda, apesar das preocupações dos investidores com a votação das medidas de ajuste fiscal no Congresso Nacional. A moeda americana, às 14h12m, era cotada a R$ 3,058 na compra e a R$ 3,060 na venda, recuo de 0,32% ante o real. Já o Ibovespa, principal índice do mercado acionário local, registra recuo de 1,35%, aos 57.265 pontos. A queda é generalizada, com 43 das 66 ações do indicador perdendo valor.
A preocupação de analistas é que o PMDB deixe de apoiar as medidas do ajuste fiscal após, na terça-feira à noite, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no programa de TV do PT, criticar o projeto de terceirização, que é defendido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Além disso, contribui para a queda do índice nesta quarta-feira a alta acumulada no ano. Em 2015, o Ibovespa subiu 16,1% até a terça-feira.
Para Lauro Vilares, analista técnico da Guide Investimentos, os investidores aproveitaram os dois fatores para um movimento de realização de lucro, ou seja, vendem ativos para embolsar os ganhos dos últimos pregões.
— A Bolsa vem de uma sequência de alta e esse problema político, na minha visão, foi um bom motivo para se colocar o lucro no bolso. Mas é natural uma queda dessa. Nenhum ativo sobe em linha reta. O mercado faz movimentos de zig e zag — disse.
Hersz Ferman, da Elite Corretora, concorda:
— Além do noticiário negativo aqui e lá fora, há um quê de realização de lucros no movimento de hoje. A Bolsa subiu com força nos últimos dias e ignorou ontem a queda dos mercados externos. Hoje os papéis estão descontando um pouco dessa valorização.
AJUSTE FISCAL NO RADAR
Apesar de ser um movimento natural, os investidores e analistas estão atentos aos próximos passos da votação das medidas provisórias 664 e 665, que alteram o tempo de trabalho para obter o seguro-desemprego e o acesso ao seguro-defeso, podem ser votadas nesta quarta-feira. “Esse conflito é ruim para o mercado, tendo em vista que as medidas são essenciais para o ajuste fiscal”, afirmaram, em relatório a clientes, os analistas da UM Investimentos.
Com a maior cautela do investidor, até as ações mais negociadas que lideraram as altas nos últimos pregões estão mostrando maior fraqueza nesta quarta-feira. Os papéis preferenciais (PNs, sem direito a voto) da Vale operam em queda de 2,85% e os ordinários (ONs, com direito a voto) recuam 4,87%.
As ações da Petrobras, que acumulam alta expressivas nos últimos pregões, passaram a operar em queda no início da tarde. As PNs registram queda de 2,22%, cotadas a R$ 14,07, e as ordinárias recuam 2,08%, a R$ 15,39.
No entanto, o setor bancário, que possui o maior peso na composição do Ibovespa, opera em queda. As ações preferenciais do Itaú Unibanco e do Bradesco caem, respectivamente, 2,98% e 2,53%. As do Banco do Brasil recuam 0,80%.
Impactadas negatiamente pelo recuo do dólar porque são exportadoras, as empresas do segmento de papel e celulose operam em baixa. A Fibria cai 2,24%. A Klabin recua 1,91% e a Suzano, 1,30%.
A Ambev, que divulgou balanço financeiro hoje, opera em alta de 0,76%. A fabricante de bebidas registrou alta de 14% no seu lucro líquido no 1º trimestre com aumento das vendas de cerveja no Brasil. O lucro líquido foi de R$ 2,96 bilhões. Já a receita líquida total subiu 19,1%, para R$ 10,77 bilhões.
No exterior, as Bolsas europeias operam em alta. O DAX, de Frankfurt, tem alta de 0,20%, e o CAC 40, da Bolsa de Paris, sobe 0,15%. Já o FTSE 100, de Londres, tem leve alta de 0,09%. Nos Estados Unidos, o Dow Jones cai 0,26% e o S&P 500 tem variação negativa de 0,22%.
DÓLAR SEGUE EXTERIOR E CAI
O dólar comercial cai acompanhando o movimento externo, mas em um ritmo menor. Pela manhã, chegou a cair mais de 1%. Na avaliação de Ítalo Abucater, gerente de câmbio da corretora Icap do Brasil, a queda é sustentada pelo comportamento da divisa no exterior. O “dollar index”, em que a Bloomberg mede o comportamento da divisa ante uma cesta de dez moedas, registra queda de 0,97%. O dólar cai frente a 12 das 16 principais divisas do mundo.
Pesam para o recuo da cotação os dados mais fracos da economia americana. Na terça-feira, a divulgação da balança comercial de março, com um déficit acima do esperado, decepcionou, indicando que o Federal Reserve (Fed, o bc americano) deve adiar a alta de juros nos Estados Unidos.
— Estamos acompanhando o exterior. Hoje o fluxo está mais fraco porque o investidor está aguardando a votação das medidas do ajuste fiscal — disse.
Abucater lembra ainda que o fluxo de recursos para o Brasil foi forte em abril. Ao todo foram US$ 13,1 bilhões, a maior parte na conta financeira, que é aquela que recebe os recursos de investidores interessados em aplicar em títulos e ações no Brasil.
— Os investidores estão vindo por causa do juro alto. Vão esperar a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que sai na quinta-feira, para ver se esse ciclo continua — avaliou.
O fluxo cambial positivo de US$ 13,1 bilhões para abril é o maior dos últimos quatro anos, segundo dados do Banco Central. Segundo o gerente de câmbio da Icap, grande parte desse movimento se deu nos últimos três dias do mês, com a expectativa de aumento de juros por parte do BC — na quarta-feira da semana passada, a Selic foi elevada em 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano.

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