Da FOLHA.COM
DA BBC BRASIL
As recentes nacionalizações de empresas espanholas na Argentina e na Bolívia podem empurrar investimentos realizados pelo país europeu na América Latina para o Brasil, preveem especialistas.
Para eles, o Brasil, que já é o principal destino dos investimentos da
Espanha na região, se beneficiaria por garantir maior segurança jurídica, além
de um quadro econômico e político mais estável comparado ao de seus vizinhos.
"De maneira geral, o Brasil tem um marco regulatório consolidado e assegura
maior respeito aos contratos, dando guarida aos investimentos", disse a BBC
Brasil Ernesto Lozardo, professor de economia da FGV-EAESP.
O país, que se tornou em 2011 a sexta economia do mundo, com um vasto mercado
interno e prestes a sediar vários eventos internacionais de grande porte, já
está na rota dos investidores externos que, sem perspectivas de ganhos futuros
nas economias dos Estados Unidos e da Europa, buscam mercados mais atraentes
para aplicar seu capital.
Segundo dados recentes da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
(CEPAL), o Brasil foi o país latino-americano que mais recebeu investimentos do
exterior no ano passado, respondendo por US$ 66,7 bilhões (R$ 128,4 bilhões) ou
43,7% do total de US$ 153,4 bilhões investidos na região, seguido do México,
Chile, Colômbia, Peru, Argentina, Venezuela e Uruguai.
Desde 1993 (início da série histórica), segundo dados do Ministério de
Economia e Competitividade da Espanha, o Brasil recebeu mais de 30% do volume de
investimentos estrangeiros diretos (IED) espanhóis na América Latina.
No ano passado, esse fluxo cresceu, totalizando 4 bilhões de euros (R$ 10,1
bilhões) ou 64% do montante total de 6,3 bilhões de euros investidos pela
Espanha no continente.
Descontados os "desinvestimentos" (ou seja, investimentos que foram
desfeitos, como venda de ativos, por exemplo), a taxa líquida das aplicações
espanholas no Brasil em 2011 ficou em 3,9 bilhões de euros, volume muito
superior ao segundo colocado, o México, com cerca de 1 bilhão de euros
investidos.
Dados do Banco Central do Brasil confirmam que, em 2011, a Espanha esteve
entre os principais investidores no país, depois da Holanda e dos Estados
Unidos.
Por outro lado, no ano passado, considerando a mesma taxa líquida de
investimentos, a Espanha "desinvestiu" 85,29 mil euros na Bolívia e 1,3 bilhão
de euros na Argentina, de acordo com as estatísticas do governo espanhol.
Se depender das empresas espanholas, tal cenário não deve ser alterado neste
ano. Segundo o relatório "Panorama de Investimento Espanhol na América Latina
2012", divulgado pelo Instituto de Empresa de Madri em fevereiro passado, 30 das
companhias de maior faturamento da Espanha enxergam com pessimismo a evolução de
seus negócios em países como Argentina, Bolívia e Venezuela.
Das empresas com filiais nesses três países, somente 15% planejam aumentar
sua presença na Argentina em 2012, contra 4% na Bolívia e na Venezuela.
No Brasil, entretanto, o índice é de 62%.
NACIONALIZAÇÃO
Na última terça-feira, o presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou a
estatização da empresa Transportadora de Electricidad S.A (TDE), filial do grupo
espanhol Red Eléctrica de España (REE), que administra 73% das linhas de
transmissão de energia do país.
A nacionalização, anunciada em meio às comemorações do Dia do Trabalho (1º de
maio), atendeu a reivindicações de sindicalistas e veio acompanhada de uma ordem
às Forças Armadas para a ocupação imediata das instalações da companhia.
Ainda que tenha criticado o ato unilateral, o governo espanhol reagiu à
expropriação de maneira diferente de quando recebeu a notícia da nacionalização
de 51% das ações da YPF, petrolífera argentina controlada pela espanhola Repsol,
anunciada pelo governo da presidente Cristina Kirchner há três semanas.
"O governo espanhol entende que a Bolívia se comprometeu a pagar um valor
justo pela estatização da TDE, ao contrário do que foi sinalizado pela
Argentina", disse a BBC Brasil José Manuel Rodríguez de Castro, conselheiro
econômico e comercial da embaixada da Espanha no Brasil.
Para além do contexto político, entretanto, analistas afirmam que o tamanho
das operações da companhia na Bolívia teria influenciado o tom das críticas. No
ano passado, a TDE respondeu por apenas 1,5% receita total da REE.
Na opinião deles, a situação na Argentina, no entanto, é diferente.
Responsável por 34% e 25% do volume de produção de petróleo e gás,
respectivamente, no país, a YPF-Repsol havia acabado de anunciar a descoberta da
reserva 'Vaca Muerta' com potencial de 22 bilhões de barris na província de
Neuquén, o que pode alçar o país a um novo patamar na exploração da commodity no
mundo.
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