De OGLOBO.COM.BR
Geralda Doca / Roberta Scrivano / Martha Beck
Especialistas alertam que bancos podem não
repassar o menor custo de captação para o financiamento habitacional
BRASÍLIA e SÃO PAULO — Embora o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tenha
dito que a mudança nas regras da poupança vai diminuir os custos dos bancos e as
instituições vão poder reduzir as taxas do crédito habitacional, na visão de
especialistas, se a lei não obrigar, o setor financeiro não vai repassar os
ganhos para os mutuários. Essa é a avaliação, por exemplo, do ex-secretário da
Fazenda Bernard Appy, que hoje atua na LCA Consultoria.
— A lei teria que obrigar os bancos a repassar esses ganhos — disse Appy.
Os financiamentos habitacionais são atrelados à remuneração da poupança. Com
a alteração nas regras, as instituições gastarão menos para captar os recursos
da caderneta, porque os poupadores passarão a ter uma remuneração vinculada a
70% da Taxa Selic, quando os juros caírem ao patamar de 8,5%. Os bancos
continuam obrigados a aplicar no setor imobiliário 65% dos depósitos da
poupança.
Appy afirmou que o cenário mais provável é que os bancos lucrem com a medida.
Isso vai acontecer se o estoque da poupança antiga cair mais rápido do que os
financiamentos já firmados, que levam em média 15 anos para acabar.
— Se o estoque da poupança cair mais rápido, o banco lucra porque terá um
custo menor de captação. Ou seja, estará financiando um contrato antigo com um
custo mais baixo — explicou.
Mantega reconheceu que o governo precisa tomar medidas para destravar a
portabilidade do crédito imobiliário — mecanismo que permite ao mutuário
renegociar contratos antigos a taxas mais baixas com outro banco. Isso já é
permitido, mas os próprios bancos não têm interesse em estimular as
migrações.
— Estamos estudando ajustes na portabilidade para que uma pessoa quite sua
dívida mais cara e procure uma mais barata — disse o ministro.
Analistas não creem em fuga da poupança
O vice-presidente de Pessoa Física da Caixa Econômica Federal, Fábio Lenza,
reafirmou que nada mudará para os contratos antigos. Disse também que nos
próximos meses não deverá haver novas reduções para o crédito imobiliário, além
dos cortes anunciados na semana passada e que entram em vigor hoje. A Caixa
domina cerca de 70% do mercado imobiliário.
O menor rendimento da poupança não deve afastar os investidores da aplicação
e, assim, não existe risco de redução no volume de recursos destinado ao crédito
imobiliário, segundo especialistas. A dúvida é quando aquele menor rendimento
vai se traduzir também em corte para as taxas cobradas nos financiamentos da
casa própria.
— Os bancos pagarão menos ao investidor com as novas regras. Sendo assim,
poderão emprestar a menores taxas também. Acredito que isso ocorrerá — afirmou o
vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon),
Eduardo Zaidan.
Para o presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito
Imobiliário e Poupança (Abecip), Octavio de Lazari Júnior, assim que a taxa
básica de juros (Selic) cair para 8,5% ao ano, os bancos já conseguirão repassar
aos clientes taxas mais atraentes no crédito imobiliário.
— Lógico que isso depende do quanto entrar na caderneta quando a Selic
estiver no patamar que contempla a nova regra. Mas a redução virá.
A possibilidade de os investidores saírem maciçamente da aplicação, que
responde por 65% dos recursos ao setor imobiliário, foi descartada pelos dois
especialistas.
— A caderneta seguirá com suas principais características, que são a
segurança e a liquidez. Portanto, não espantará os investidores — completou
Zaidan.
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