Por Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Embora seja impossível ainda dizer com precisão qual o rumo da CPI, nesse
começo é possível identificar na atitude da maioria a disposição de firmar
compromisso com a seriedade.
Ninguém quer ser responsável pelo enterro das investigações. Ou pelo menos
não deseja assim parecer para a opinião pública.
Na reunião que aprovou o roteiro de trabalho prevaleceu o equilíbrio de
forças e, noves fora um ou outro caçador de holofotes, o ambiente foi favorável
ao exercício civilizado do contraditório.
O bom andamento dos trabalhos deveu-se em parte à condução desapaixonada e
partidariamente isonômica do presidente Vital do Rêgo, mas também à atuação
firme de parlamentares que conseguiram evitar equívocos que levariam a CPI a
causar má impressão logo de início.
Basicamente três: a convocação do procurador-geral da República, Roberto
Gurgel, a restrição das investigações sobre os negócios da construtora Delta à
Região Centro-Oeste e a limitação de depoimentos a servidores de governos
estaduais.
Todos atendiam aos interesses explicitados pelo PT.
Quais sejam o de criar constrangimentos ao procurador e de transformar a
comissão em uma CPI periférica, sem alcance nacional.
A tentativa de convocação não decorreu da falta de informação sobre o
impedimento legal, mas do desejo de fazer uma figuração para não falar na
possível má-fé para torná-lo impedido de exercer a titularidade da ação junto ao
Supremo Tribunal Federal e enfraquecê-lo na mesma função no processo do
mensalão.
No caso da Delta, o plenário da CPI deixou patente a correlação de forças
favorável a que a empreiteira seja investigada em todo o País e conseguiu
incluir servidores federais e municipais no rol de possíveis convocados. Ficou
faltando acertar a convocação de Fernando Cavendish, o mandachuva, e de todos os
governadores citados, mas o assunto não ficou fora da pauta como seria o ideal
na visão radical do uso da CPI para fins de desforras políticas.
O bom começo garante um bom transcurso? Não necessariamente. Tudo vai
depender do resguardo do equilíbrio de forças na CPI, do faro fino dos
parlamentares interessados exclusivamente nas investigações e no olho vivo da
opinião pública.
O fiscal. Por enquanto, pares de Fernando Collor na CPI veem com
condescendência seus ataques de nervos. Acham que está em busca de destaque
quando insiste na convocação do procurador-geral da República e investe no papel
de bedel do sigilo dos dados em poder da comissão.
Mas, a depender do comportamento do ex-presidente da República, afastado do
cargo em decorrência do trabalho de uma CPI que desvendou esquema de corrupção
em seu governo, poderá sofrer constrangimentos nos embates entre
parlamentares.
Há quem esteja preparado para lembrar-lhe alguns exemplos ilustrativos dos
efeitos saneadores da transparência.
Foi mediante os chamados vazamentos que a sociedade ficou sabendo durante os
trabalhos da CPI de 1992 que Ana Acioli, secretária particular do então
presidente, recebia em sua conta depósitos de Paulo César Farias, o operador do
esquema, e de laranjas titulares de contas movimentadas pela organização.
O documento definitivo, um cheque para a compra de um Fiat Elba para Rosane
Collor, divulgado pelo repórter Jorge Bastos Moreno de O Globo, chegou ao
conhecimento do País pelo mesmo caminho.
Aquele que atende aos preceitos constitucionais da liberdade de imprensa e da
aplicação do princípio da publicidade à administração pública.
Nada no front. A nomeação de Brizola Neto para o Ministério do Trabalho não
muda nada no PDT. Ele ganha força interna, mas o presidente Carlos Lupi -
contrário à indicação - não perde.
Quem dá as cartas no partido chama-se Paulo Pereira da Silva, deputado e
presidente da Força Sindical. Ligado a Brizola e a Lupi, já trabalha pela
aproximação dos dois.
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