Por Gilles Lapouge - O Estado de S.Paulo
Hoje será um dia pesado para François Hollande. Pela manhã, ele assume a
presidência da França. Em seguida, recebe algumas figuras de praxe, visita o
Túmulo do Soldado Desconhecido. Depois, faz um passeio para manter contato com o
público. No fim do dia, parte para Berlim. No programa: salvar a Europa.
Berlim será seu batismo de fogo. Como ele se entenderá com a chanceler Angela
Merkel? Que remédios ambos devem prescrever para a Europa? Os métodos de Merkel
são conhecidos. Segundo ela, só um rigor implacável fará com que Grécia,
Espanha, Itália e Portugal escapem do desastre.
A análise de Hollande é outra. Para ele, o rigor é importante, desde que
associado a medidas que promovam o crescimento. Ele pretende renegociar o
terrível pacto orçamentário imposto pela chanceler alemã aos países europeus.
Hollande quer a revisão desse acordo, que seu rigor seja abrandado,
acrescentando uma seção prevendo que promovam o crescimento. Merkel já respondeu
a essa questão: "Não".
A posição de Hollande, presidente novato, diante de um peso pesado como
Merkel, é débil. No entanto, ele tem alguns trunfos.
No domingo, a chanceler recebeu uma bofetada. O poderoso Estado da Renânia do
Norte-Westfalia infligiu uma dura derrota eleitoral para ela. Hannelore Kraft,
do Partido Social-Democrata (SPD), que já dirigia essa região, aumentou sua
hegemonia, derrotando o candidato de Merkel.
Flexibilização. Boa notícia para o novo presidente francês.
Não só porque ele é socialista, como Hannelore Kraft, mas, sobretudo, porque o
SPD também gostaria de tornar flexível o rigor cego que serve de bússola para a
chanceler.
Como Hollande, o SPD quer que o pacto orçamentário, que ainda não foi
ratificado pelo Parlamento alemão, seja completado por medidas que favoreçam o
crescimento econômico.
Um outro elemento: o primeiro encontro entre o francês e a alemã ocorre no
momento em que a crise atinge um ponto em que o retorno é impossível. A Grécia,
que vem sendo ajudada há dois anos por Merkel, está no fim de suas forças. Sem
dinheiro, sem governo, desesperada, ameaçada por comunistas extremistas e
neonazistas.
Atenas é um barco à deriva. Claramente, o remédio oferecido por Merkel, que
custou à Europa centenas de bilhões de euros e levou a Grécia ao desespero,
causando suicídios e milhões de mendigos, não teve o mínimo resultado. A revista
Der Spiegel, que até agora defendia a permanência da Grécia na zona do euro,
mudou de ideia. "Acrópole, adeus", é o título de a matéria de capa publicada
nesta semana (mais informações no Caderno Economia).
Quem dera fosse só a Grécia. Mas não. O fato é que a Espanha também está
revoltada. Centenas de milhares de "indignados" gritam o seu pânico. Na Itália,
o grupo chamado Federação Anarquista Informal (FAI) fez explodir coquetéis
molotov e tem feito outras ameaças. Como não pensar na infâmia das Brigadas
Vermelhas, que ensanguentou a península nos anos 70 e 80? É nesse cenário que se
levantam as cortinas para o primeiro encontro entre Hollande e Merkel.
O que quer dizer que ambos estão condenados a se entender, caso a ideia seja
mesmo impedir que o fogo se espalhe por toda a casa europeia. O que é exigido
deles é uma façanha: balizar juntos o caminho invisível que passa entre o rigor
glacial e uma ajuda prudente ao crescimento econômico. Se é que esse caminho
realmente existe.
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
* É CORRESPONDENTE EM PARIS
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