Por Gilles Lapouge - O Estado de S.Paulo
O euro vai mal. Registrou uma queda em relação ao dólar, valendo agora US$
1,2696. Desde as eleições gregas, no dia 6 de maio, a moeda única europeia
perdeu quatro centavos. Não é uma queda catastrófica. Ela agrada os
exportadores, prejudicados com o vigor do euro em relação ao dólar ou ao iene.
Mas na realidade o recuo da moeda é sinal da péssima saúde da União Europeia e
da zona do euro.
Os especialistas, claro, culpam a Grécia por essa debilidade do euro.
Esse país se dirige irremediavelmente para o abismo e atrai todos os seus
parceiros europeus para baixo. De fato, é toda a Europa que se afunda no
marasmo. Os últimos dados publicados pelo Eurostat são consternadores para a
União Europeia e em especial para a zona do euro.
No primeiro trimestre de 2012, os 17 países que adotaram a moeda comum
tiveram um crescimento nulo. Zero.
É verdade que o desempenho foi melhor do que no ano passado, quando o recuo
foi de 0,3%. Mas todos os presságios eram de que o ano de 2012 seria o da
retomada. A crise não seria mais do que uma triste lembrança. Mas não! A crise
não é uma lembrança. Está em "plena forma".
E causa estragos.
Examinando mais de perto os dados, descobrimos uma outra razão de
inquietação.
A zona do euro, essa entidade cujo objetivo é reunir as economias
discrepantes do Velho Continente, está dividida em duas zonas: ao norte, os
"virtuosos", com a Alemanha e a Finlândia, que prosseguem sua marcha para a
frente. Ao sul, os "estropiados", Grécia, Itália, Portugal, Espanha, todos em
recessão.
Entre essas duas zonas, e em igual distância uma da outra, a França, que
registrou um crescimento nulo.
Esses resultados são angustiantes. Como relançar a máquina europeia se todos
os indicadores estão no vermelho?
Mas há ainda pior: o instrumento que deveria permitir unificar pouco a pouco
o nível de vida, as atividades, as trocas comerciais, das duas metades da
Europa, a do norte e a do sul, mostrou-se incapaz de cumprir sua missão. Sem a
moeda única, os países do sul capotam. E com a moeda única eles capotam da mesma
maneira.
Outra constatação: a Grécia, que em parte está na origem do drama da zona do
euro, é um país muito pequeno. Sua economia representa somente 2% do Produto
Interno Bruto (PIB) do conjunto da zona do euro.
Ora, os 98% foram incapazes de salvar os 2%. Ou seja, caso a Grécia seja
obrigada a sair da zona do euro e retomar sua antiga moeda, o dracma, o
resultado do combate que a zona do euro empreende há dois anos seria desastroso
não só em termos de economia, mas em termos de imagem.
Se isso se produzir, o grande projeto da zona do euro sofrerá uma derrota
psicológica. Que zona do euro é essa, que se apresenta como o futuro, que quer
mostrar sua força, que incha o peito, mas se confessa impotente para socorrer um
país cujo PIB é cinquenta vezes menor que o da própria zona do euro?
Será a pergunta levantada. É o que leva à reflexão dos especialistas que
começam a imaginar a saída da Grécia, entre eles a própria Christine Lagarde,
diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em compensação, no contato menos rude do que o previsto, entre a chanceler
alemã, Angela Merkel, e o novo presidente da França, François Hollande, em
nenhum momento foi considerado que a Grécia pode levantar as amarras e zarpar -
ou, mais exatamente, naufragar.
/ TRADUÇÃO DE TEREZINHA
MARTINO
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