sábado, 12 de dezembro de 2009

ARTIGO: Alzheimer, o guru dos partidos

Do blog do NOBLAT

Por Ruy Fabiano

Muito embora o PT queira tirar proveito das fragilidades morais de seus adversários, ostentando indignação com o strip-tease do governador José Roberto Arruda, a verdade é que os escândalos recentes e remotos igualam os partidos perante os eleitores.
Há os mensalões do PT, do PSDB e do DEM, os três maiores partidos do país. Os partidos periféricos gravitam em torno de cada um deles, colhendo as sobras. No final, sobram poucos, bem poucos. Não há inocentes a bordo, nessa aeronave chamada poder.
O mensalão do PSDB foi o primeiro, em Minas; o do PT, o maior e de âmbito nacional; e o do DEM o mais bem documentado, em cenas pornôs, amplamente divulgadas. Os dois primeiros estão no Supremo Tribunal Federal; o terceiro acaba de vir à tona. Todos, enfim, compartilham o mesmo chiqueiro.
Outro denominador comum a uni-los, e que explica a proliferação dessa prática, é que ninguém até aqui foi judicialmente punido. A punição maior, aplicada por enquanto apenas ao mensalão do PT, foi a da perda do mandato: do denunciante, Roberto Jefferson, e do denunciado, José Dirceu. Punição política.
Nem ela, no entanto, foi suficiente para bani-los da vida pública. Roberto Jefferson - que, além de denunciá-lo, descreveu o mensalão petista em detalhes em seu livro “Nervos de Aço”, estranhamente ausente das livrarias - continua presidindo o PTB, que, por sua vez, continua apoiando o governo.
José Dirceu continua a exercer enorme influência sobre o governo Lula. Acaba de ver eleitos para a direção do PT os nomes que apoiou, entre os quais o colega de mensalão, José Genoíno. E é o estrategista da campanha de Dilma Roussef. Ou seja, sua cassação indicou apenas mudança de CEP: já não despacha na Casa Civil, mas em seu próprio escritório de consultor de empresas, embora jamais tenha sido empresário.
O DEM ao menos pode alegar que expulsou o governador Arruda, enquanto PT e governo prestigiam Dirceu e lhe atribuem missões políticas. E ele as tem cumprido informalmente, inclusive no âmbito da política externa. Mais de uma vez, foi à Venezuela tratar com Chavez assuntos que seriam mais próprios a um chanceler.
Em tal contexto, não convém a ninguém levar o tema da ética aos palanques. A oposição, antes de o STF acatar denúncia contra o senador Eduardo Azeredo (PSDB), pretendia fazê-lo, explorando o mensalão do PT, previsto para ser julgado no ano que vem.
Mas já se anuncia que talvez fique para 2011. Afinal, são muitas as testemunhas a serem ouvidas – cada um dos 40 réus arrolou dezenas delas - e não dará tempo para fazê-lo até o ano que vem.
Com o mensalão de Minas no STF e a nova versão do Festival de Cinema de Brasília, protagonizada pelo governador Arruda, a oposição constatou que o tema não lhe convém.
O pouco entusiasmo com que Lula recebeu a filmografia de Arruda evidencia que também ali a opção é por outro assunto.
Quem tiver dúvidas basta acompanhar o raciocínio do presidente do PT, Ricardo Berzoini: “Ética é importante, mas isso passa pela reforma política. O que precisamos discutir são os rumos do país”, disse ele.
Lula já havia dito que as imagens do mensalão de Brasília “não falam por si”. É preciso instaurar processo e investigar. E isso leva tempo, o suficiente para que o tema saia da mídia e caia no esquecimento.
E é com o Alzheimer político, doença institucional brasileira, que os partidos contam para encobrir suas chagas, atribuindo as responsabilidades pelos deslizes ao “sistema” que ninguém quer mudar.
Dom Pedro II, em 1870, abria uma reunião ministerial dizendo que “todos os males do país derivam do modo como são feitas as eleições”.
Cento e trinta e nove anos depois, e contemplando as cenas do propinoduto candango, vale citar o Eclesiastes bíblico: “Não há nada de novo sob o sol”.

Ruy Fabiano é jornalista

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