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Estrategista da Moore Europe diz que país precisa de novo modelo de crescimento
Atividade econômica em queda, intensificação das pressões inflacionárias, confiança do empresário e do consumidor desmoronadas, "as perspectivas econômicas do Brasil parecem cada vez mais fracas", alerta o estrategista global da Moore Europe Capital Management, Gene Frieda, em artigo publicado no Project Syndicate. Ele se propõe, então, a traçar o quão "doente" estaria a economia brasileira, e como esse mal-estar deve influenciar o desempenho da eleição presidencial em outubro.
À primeira vista, alerta Frieda, o crescimento fraco do país parece efêmero, considerando a posição da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas de intenção de voto e ainda a contribuição do Partido dos Trabalhadores, nos últimos 12 anos, para o mais forte crescimento do PIB per capita em mais de três décadas; menor desigualdade de renda com um sistema extenso de transferência de renda, que atinge um terço dos lares brasileiros, e ainda redução do desemprego formal para o índice recorde de 4,5%.Mesmo um olhar superficial nos dados econômicos recentes revela que o modelo de crescimento pode estar batendo em uma parede de estagflação
"Mas mesmo um olhar superficial nos dados econômicos recentes revela que o modelo de crescimento do Brasil pode muito bem estar batendo em uma parede de estagflação", pondera, ao lembrar o resultado do PIB do segundo trimestre, uma queda de 0,6%, que junto com a revisão do primeiro para -0,2% levou à recessão técnica.
"E o crescimento anual durante a presidência de Dilma Rousseff tem, provavelmente, uma média de menos de 2% - o mais lento para qualquer presidente brasileiro desde os anos 1980, quando o país começou sua transição de caso perdido hiperinflacionário e inadimplente para a economia de renda média estável e cada vez mais próspera", continua.
Além disso, atesta, se o governo não cortasse impostos e atrasasse "aumentos tão necessários" nos preços da gasolina e da eletricidade, a inflação média anual seria de 7,5% - um nível não alcançado em décadas. Ele lembra que onde o governo não tomou medidas, nos serviços, a taxa já ultrapassa 9%.
Para o o estrategista, é só "cavar mais fundo" para encontrar desequilíbrios e fragilidades na economia brasileira, que apontam para uma substancial perda de competitividade. Até mesmo os pontos fortes da economia, que para o estrategista seria um setor de serviços próspero e o baixo desemprego, descansam sobre políticas de crédito insustentáveis. "Rápido crescimento do crédito é uma consequência natural da queda das taxas de juros reais. Mas, no Brasil, os empréstimos concedidos por bancos estatais superou a dos bancos privados de forma significativa desde 2008", diz Frieda.
Para ele, a próxima eleição presidencial é a mais importante do país, desde sua transição para a democracia em 1985. Mas, apesar da queda nas desigualdades entre brasileiros, 70% dos brasileiros expressam desejo de mudança de governo. O que não chega a surpreender, acredita, vide os protestos de junho que tomaram as ruas contra a baixa qualidade dos serviços públicos e alto custo de vida.
"Mas a culpa é inteiramente do governo Dilma?", questiona, apontando em seguida que uma resposta curta seria "não". "Enquanto o governo de Dilma Rousseff é o grande responsável pelo recente surto de debilidade conjuntural e convulsão social, os problemas do Brasil estão enraizadas em uma indisposição mais ampla para sacudir as políticas adotadas durante mais de duas décadas de regime militar."
Frieda defende que o Brasil precisa de um novo modelo de crescimento, baseado em quatro elementos-chave: política fiscal mais apertada, política monetária mais frouxa, um papel reduzido para os bancos estatais na concessão de crédito, e medidas para reduzir os custos de empréstimos privados "astronômicos" do Brasil. De direita ou de esquerda, o novo governo precisaria enfrentar a difícil tarefa de reformar o sistema de direitos adquiridos, para tornar os benefícios sociais mais flexíveis e acessíveis. Essa abordagem, alerta, é que vai determinar se o Brasil seguirá o caminho da Venezuela, de estagflação, ou se seguirá os passos do Chile, considerada a melhor economia da América Latina.
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