Do blog do NOBLAT
Por Sandro Vaia
Os filmes de advogado são mais divertidos na TV,
principalmente porque os advogados norte-americanos são muito objetivos, nunca
falam “data máxima vênia” e estão sempre atrás daquilo que o Garganta Profunda
recomendava a Woodward e Bernstein: follow the money- sigam o dinheiro.
Como o direito anglo-saxônico escapou das complexas formulações da retórica
latinória, não há perigo de ouvir, naqueles filmes, advogados dizendo que seus
clientes foram a Portugal comer pastéis de Santa Clara ou pedir aos juízes que
tenham piedade dos réus porque aquele julgamento pode significar “a bala de
prata” para alguns e muita tristeza para suas famílias.
No quinto dia daquele que se afigurava como “o julgamento do século”, ao
final do qual afinal saberemos porque querem proibir-nos de usar a palavra
“mensalão”, paira sobre o assunto um tédio tão mortal que não só faz adormecer
os venerandos juízes no aconchego de suas togas, como torna uma partida de
handebol feminino entre Austrália e Nova Zelândia um modelo de eletrizante
emoção.
Desde o dia em que o procurador Gurgel nos enterneceu com os baixos decibéis
de seu interminável solilóquio, com toda a carga de acusações que lhe foi
possível juntar, parece que estamos ouvindo uma interminável oração fúnebre. De
novo, como nos filmes norte-americanos, onde os elogios fúnebres fazem parte dos
rituais de despedida.
Os desolados amigos contam a outros desolados amigos como eram maravilhosas
essas pessoas que tão prematuramente abandonaram o nosso convívio deixando para
trás inesquecíveis lições de vida. Assim foram até agora os réus do
mensalão.
Isso faz parte do ritual e ainda vai demorar um tempo, considerando o
alentado número de acusados. Muitos cochilos ainda ressoarão na Egrégia
Corte.
Ouviremos ainda muitas histórias de reputações ilibadas (salvo a de alguns
poucos mequetrefes) de pessoas que nada mais fizeram do que dedicar-se ao bem
comum, com a ajuda de generosos bancos que jamais pensaram em dedicar-se à
mesquinha tarefa de cobrar empréstimos feitos com o único objetivo de ajudar os
outros.
Para que serve o dinheiro senão para oferecê-lo a quem precisa ? Que banco
seria tão estróina a ponto de pedir o dinheiro de volta?
Estes são os primeiros dias do julgamento do – com perdão da palavra,
senhores censores - mensalão. Cada um dos 11 juizes do Supremo Tribunal Federal
deve guardar no segredo das suas togas uma sentença já formada para cada um dos
38 acusados.
Lá pelo começo de setembro é bem possível que saibamos de que material são
feitos os nossos anjos e para que espécie de País os nossos futuros campeões
olímpicos vão procurar ganhar as suas medalhas.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor
do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação
da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do
livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani
Sanchez. E.mail: svaia@uol.com.br