Da FOLHA.COM
MATHEUS LEITÃO / ANDREZA MATAIS
Escutas telefônicas da Operação Monte Carlo, feitas pela Polícia Federal,
revelam que o empresário Carlinhos Cachoeira negociava um software para burlar
licitações feitas por pregão eletrônico.
O dispositivo foi classificado de infalível pelo grupo do empresário, em
conversas gravadas pela PF, às quais a Folha teve acesso.
Em escuta de março de 2011, Cachoeira trata da aquisição do software com o
ex-diretor da empreiteira Delta no Centro-Oeste Claudio Abreu. Ele afirma que o
grupo ganharia "tudo quanto é licitação" com o dispositivo, que, diz Cachoeira,
funcionaria por meio de uma maleta.
Não fica claro na conversa como seria o funcionamento do programa nem o papel
da maleta para influenciar os pregões, feitos a partir de lances dados pela
internet.
O uso do sistema para fraudes em licitações já foi identificado pelo Tribunal
de Contas da União (TCU) e pelo Ministério do Planejamento.
Os órgãos descobriram que o programa identificava os lances dos oponentes e,
de maneira quase imediata, dava lances um pouco menores, facilitando a vitória.
Por isso, em dezembro de 2011, o governo editou portaria para impedir que
fossem feitas propostas em menos de 20 segundos após um lance.
Cachoeira e o ex-diretor da Delta foram presos em fevereiro por, entre outras
acusações, corromper agentes públicos para ganhar licitações para a construtora
--da qual o empresário era sócio oculto, segundo a PF.
Os agentes investigam se o grupo chegou a usar o equipamento em algum pregão
eletrônico realizado em Goiás ou em outros Estados.
FORNECEDORA
Nos grampos, Cachoeira e Abreu citam uma empresa chamada Régula como a
fornecedora da maleta, que seria fabricada na Bielorrússia.
Cachoeira conta a um interlocutor que conseguiu um desconto. "O problema é
que eles queriam R$ 22 por coisa, aí eu fechei com eles a R$ 7", relatou o
empresário.
"O dono da maleta é uma tal de Régula. Eles são exclusivos no mundo inteiro,
cara. A gente ganha todas as licitações", completou ele.
O represente da Régula no país, Alexandre Marinho, afirmou que foi procurado
por pessoas citadas Cachoeira no grampo. Eles queriam ser representantes de um
equipamento vendido pela Régula. Marinho negou, entretanto, que seja a maleta.
Segundo ele, a empresa vende equipamentos de prevenção de fraudes em veículos.
OUTRO LADO
O advogado de Carlinhos Cachoeira, Nabor Bulhões, afirmou que desconhece o
uso da maleta e do software pelo seu cliente.
"Nos autos sobre os quais me debrucei não existe nenhuma referência a isso,
direta ou indiretamente."
E continuou: "As interceptações telefônicas estão sob procedente impugnação,
seja na ilegalidade para a interpretação de sua realização, seja na manifesta
ilegitimidade na forma como elas foram executadas".
No início do mês, a Justiça Federal suspendeu o processo, em decisão
provisória, até que as empresas de telefonia forneçam todos os extratos
telefônicos acessados durante a operação.
O advogado do ex-diretor da Delta no Centro-Oeste Claudio Abreu foi procurado
em seu escritório e no celular, mas não ligou de volta para a reportagem.
A empreiteira Delta já disse que não tem relação com Cachoeira e que
eventuais ligações do nome da empresa com ele são de responsabilidade de Abreu.
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