Do POLÍTICA LIVRE
Por Raul Monteiro
Foto: Beto Barata/Agência Estado
A baiana Maríia Muricy
A professora Marília Muricy é do mesmo time de outra baiana ilustre e campeã,
Eliana Calmon. Militantes do Direito, as duas pertencem a uma estirpe de
mulheres decentes, de fibra, inteligentes, cultas e que, incumbidas de missões
importantes, demonstram sempre grande espírito público, revelando-se
intransigentes na defesa de valores caros à república e à democracia.
No cargo de presidente do Conselho Nacional de Justiça, Eliana deu uma
inesquecível aula à Bahia e ao Brasil de como se deve proceder e lutar pela
ética nas importantes instituições jurídicas do país. As consequências de sua
postura, não custa especular, repercutem hoje com certeza até o julgamento do
mensalão. Em posição de menos visibilidade, não foi outro o desempenho público
de Marília no âmbito da Comissão de Ética da Presidência da República.
Num de seus pareceres mais comentados, detonou a figura estranha do então
ministro do Trabalho Carlos Lupi, submetido a acusações de desvios de recursos
no Ministério via ONGs, que acabou se demitindo em benefício do país. Mas a
presidente Dilma Rousseff parece não ter gostado muito da postura independente
de Marília.
E, na oportunidade que tinha para reconduzí-la e a outro integrante da
comissão reputadamente sério, ratificando a correção do trabalho que ambos foram
nomeados para exercer, preferiu não fazê-lo.
Felizmente, tanto Marília quanto o colega foram defendidos por um homem cuja
decisão apenas reforça sua dimensão de grandeza, o ex-ministro Sepúlveda
Pertence, que, em protesto, renunciou ao cargo de presidente da Comissão de
Ética da Presidência, deixando a nu que o que se pretende para aquela instância
não se coaduna com princípios de seriedade e responsabilidade no trato da coisa
pública que deveria resguardar.
Marília foi secretária de Justiça do governador Jaques Wagner, a quem se
atribui a sugestão do seu nome para a Comissão de Ética. Na secretaria, foi
sucedida por Nelson Pelegrino, hoje candidato do PT a prefeito de Salvador. Mas,
pelo nível da vinculação de ambos com a presidente Dilma Rousseff, não se deve
naturalmente esperar que se pronunciem sobre o caso, muito menos com a
indignação demonstrada por Sepúlveda Pertence.
Entretanto, fatos como esse são importantes porque atuam como divisores de
água. Separam o joio do trigo. Mostram, por exemplo, como é injusta a imagem de
que a presidente do Brasil gosta de uma faxina ética. Ou sabe separar o Estado
do seu governo. Mostram, na verdade, que o time de Dilma é outro, onde não jogam
mulheres que ficarão para a história baianas como Marília e Eliana.
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