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Gervásio Baptista/STFTrinta e oito reús, entre eles três ex-ministros, são julgados pelo STF
Sete anos depois de revelado o escândalo, o Supremo Tribunal Federal
brasileiro iniciou com grande pompa, incluindo televisão ao vivo, o julgamento
de três ex-ministros e outros 35 políticos, financistas e empresários acusados
de participar de uma rede de suborno a deputados e financiamento ilegal de
campanhas políticas que em 2005 encostou na parede o governo do presidente Lula
da Silva. O procurador-geral considera o "mensalão" - como é conhecida a trama -
o caso mais grave de corrupção e desvio de dinheiro público da história do
Brasil.
É improvável que o mensalão salpique a presidente Dilma Rousseff, apesar de
entre os processados estar a antiga cúpula dirigente do Partido dos
Trabalhadores (PT), a que pertencem Lula e a chefe de Estado, além de membros de
outras formações da atual coalizão governante. A sucessora de Lula conquistou
uma credibilidade extra entre os brasileiros depois de ter demitido sem
contemplações um punhado de membros de seu gabinete acusados de corrupção.
O núcleo do chamado "julgamento do século" estabelece que depois de chegar ao
poder, em 2003, o PT do presidente Lula utilizou dinheiro público (transportado
em malas) para comprar votos a favor do governo de parlamentares de outros
partidos. O catálogo de acusações inclui corrupção, malversação, lavagem de
dinheiro, evasão de divisas e associação ilícita. A acusação indica como
responsável máximo pela armação José Dirceu, que foi o braço-direito de Lula. O
ex-presidente brasileiro, que não foi envolvido na trama, pediu perdão na época,
mas depois manteve uma posição ambígua sobre os fatos.
Do resultado do julgamento não vai depender o futuro do gigante
latino-americano, como sugerem os extremistas. O Brasil é indulgente com a
corrupção; seus cidadãos afirmam nas pesquisas que não a toleram entre seus
dirigentes, mas depois votam neles sem o menor problema. O próprio Lula foi
reeleito no ano seguinte à explosão do escândalo que agitou seu partido. Mas que
o mensalão tenha chegado ao Supremo é um sinal de progresso em um país onde uma
reputação duvidosa não costuma impedir que alguém faça carreira política. Uma
sentença exemplar, além de macular o legado de Lula, contribuiria para
desacreditar uma arraigada cultura de corrupção e de impunidade dos poderosos no
Brasil.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes
Gonçalves
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