Do ESTADAO.COM.BR
Vera Rosa e Tânia Monteiro, de O Estado de S. Paulo
Dilma Rousseff ordenou silêncio aos auxiliares e delegou ao PT a tarefa de dar respostas
BRASÍLIA - Preocupada com o acirramento dos ânimos às vésperas do julgamento
do mensalão, a presidente Dilma Rousseff disse que o governo não entrará na
briga entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Gilmar
Mendes, do Supremo Tribunal Federal.
Dilma avalia que a situação é perigosa, tem potencial de estrago que beira a
crise institucional nas relações entre Executivo e Judiciário, e transmitiu esse
recado na conversa mantida nesta terça-feira, 29, com o presidente do STF, Ayres
Britto. O encontro durou uma hora e dez minutos, no Planalto.
Embora petistas estejam fazendo desagravos públicos a Lula, a presidente
ordenou silêncio aos auxiliares após falar com ele por telefone. A ordem é
blindar o Planalto dos torpedos vindos da CPI do Cachoeira e dos ataques de
Mendes.
Lula estará nesta quarta-feira, 30, em Brasília, onde fará uma palestra no
5.º Fórum Ministerial de Desenvolvimento, e vai se encontrar com Dilma. Pela
estratégia definida até agora, o governo fará de tudo para se desviar da
polêmica e repassará a tarefa das respostas políticas ao PT. O ministro do STF
jogou nesta terça mais combustível na crise, ao responsabilizar Lula por uma
“central de divulgação” de intrigas contra ele.
Embora dirigentes do PT saiam em defesa de Lula, a cúpula do partido avalia
que é preciso calibrar o contra-ataque, porque qualquer reação intempestiva
contra o Judiciário prejudicaria os réus do mensalão.
Fora do foco. “Não acreditamos que Mendes nem nenhum
integrante do Supremo esteja ligado ao crime organizado de Carlinhos Cachoeira”,
disse o deputado Jilmar Tatto (SP), líder do PT na Câmara. “A CPI não foi
instalada para apurar possíveis desvios de conduta de ministros do Supremo, mas,
sim, para desbaratar o crime organizado de Cachoeira. Quem alimenta esse tipo de
polêmica quer desviar o foco da CPI e vamos dar um basta nisso, encerrando essa
polêmica.”
Mesmo ressalvando que não baterá boca com Mendes, o deputado André Vargas
(PR), secretário de Comunicação do PT, achou “estranha” a versão do magistrado
sobre o encontro. “Por que Lula iria falar com um ministro que foi indicado pelo
PSDB e não com os oito que ele indicou?”, questionou. “E por que Mendes só
divulgou essa conversa um mês depois, às vésperas do depoimento de Demóstenes
Torres no Conselho de Ética?”
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