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Jorge Bastos Moreno
Ministro diz que esperava encontro social com Lula, mas acabou tendo diálogo pouco republicano com o ex-presidente
Na bela manhã de quinta-feira, dia 26 de abril, o ministro do STF Gilmar
Mendes saiu de casa para, finalmente, encontrar-se com o ex-presidente Lula —
com quem, até essa data, mantinha relações mais que cordiais — no escritório do
amigo e ex-ministro Nelson Jobim.
O encontro fora marcado por Jobim, a pedido de Lula. Mas, para Gilmar, o
contexto era outro. Há muito, desde a cirurgia de garganta de Lula, ele se
sentia devedor de uma visita ao ex-presidente.
O ministro chegou a tratar com Clara Ant, assessora de Lula, sobre a melhor
data da visita. Quando estava próxima de realizá-la, Gilmar soube que Lula se
internara de novo. Numa conversa com o presidente do Senado, José Sarney, este
lhe comunicou que iria visitar o ex-presidente em São Paulo.
— Por favor, diga ao presidente Lula que estou tentando visitá-lo. O senhor
bem que poderia me ajudar, marcando isso com ele — pediu Gilmar a Sarney.
Se há uma coisa que político gosta de fazer é mediar encontros.
Quando recebeu o convite de Jobim para encontrar-se com Lula, Gilmar ficou
eufórico: finalmente, iria rever o amigo.
Na cabeça do ministro, o encontro seria social e afetivo e realizado por
desejos de ambos. E, para ser mais justo, mais pela insistência de Gilmar do que
de Lula.
Foi neste contexto que o encontro foi realizado. Convém esclarecer, também,
que tudo isso e o que se segue foram reconstruídos seguindo os rastros das
conversas que o ministro Gilmar Mendes passou a ter com vários interlocutores
sobre o ocorrido.
Coincidentemente, Gilmar, naquele mesmo dia, tinha marcado um encontro com o
presidente dos Democratas, o senador Agripino Maia. Maia contaria aos
correlegionários que Gilmar chegou ao encontro esbaforido, soltando fogo pelas
ventas.
A história espalhou-se logo pelos Três Poderes. Formalmente, Gilmar relatou
ao presidente do Supremo, Ayres de Britto. Mas contou ao amigo Sigmaringa Seixas
e este, supõe-se, a Dilma.
Pelo contexto relatado acima percebe-se, claramente, que a ação de Lula era
totalmente dispensável. Primeiro, a de ter usado Jobim como intermediário.
Segundo erro, ao tentar sensibilizar Gilmar para assumir uma posição técnica,
não política.
Se o ex-secretário da presidência de Lula e hoje funcionário do seu
Instituto, o mineiro Luis Dulci, gostasse de trabalhar, teria preparado um
resumo para o ex-presidente sobre as decisões mais importantes tomadas por
Gilmar a favor do PT: rejeição da denúncia contra Gushiken: voto a favor de
Palloci e recusa de denúncia contra Mercadante, entre outros. Em todos esses
episódios, os chamados "ministros amigos" foram todos votos contra o PT.
Mercadante, inclusive, nem poderia ter sido eleito senador e, muito menos, estar
hoje no ministério da Educação, se tivesse dependido do voto de Sepúlveda
Pertence.
Apesar de todas essas posições de Gilmar terem sido eminentemente técnicas,
pode se dizer que houve também reciprocidade de Lula no trato com o ministro.
Gilmar vai morrer agradecendo a Lula a solução de diversos problemas do Supremo
que dependiam administrativamente do governo.
Tanto isso é verdade que, no governo Lula, durante encontro social com um dos
ministros, Gilmar Mendes, certa vez, tripudiou:
— Não adianta vocês me enrolarem, eu vou ao meu amigo Lula e ele resolve
tudo.
Bem, isso sem contar a relação — e esta é a grande revelação — entre os
casais Lula da Silva e Gilmar Mendes. Em todos os aniversários, inclusive no
último que passou em Brasília, comemorado só entre os íntimos, Gilmar e sua
mulher Guiomar estavam lá. No Torto, no Alvorada e até mesmo no restaurante
“Feitiço Mineiro”, o casal Mendes era presença constante. Maria Letícia e
Guiomar transformaram-se em grandes amigas.
Por que Lula teria agido assim? Prevalece a máxima do “perdoa, mas não
esquece”. Lula não se esquece de que, por espionagem a Gilmar Mendes, numa
conversa com o próprio Demóstenes, fora obrigado a demitir Paulo Lacerda da
Abin. Lula sentiu-se humilhado, já que a decisão foi resultado de uma delicada
conversa sua, na época, com Gilmar, mediada pelo mesmo Jobim.
No encontro fatídico de agora, Lula voltou ao tema de raspão:
— Será que aquele grampo não foi feito pelo próprio Cachoeira ou mesmo
Demóstenes ou alguém da turma deles?
Como, a essa altura, a conversa já não estava mais sendo republicana, Gilmar
tirou a toga:
— Que é isso, Lula! A prova de que seu governo era uma bagunça está no fato
de que o homem de confiança da Abin, o homem de Paulo Lacerda na operação
“Satiagraha”, era o Dadá! Você sabia disso?
A coisa esquentou mesmo quando Lula, diante da declaração de Gilmar de que
nada tinha a temer da CPI, perguntou-lhe com um tapinha nas costas:
— E a história de Berlim?
Quem diz que tapinha não dói? Doeu mais que a pergunta. O revide foi mais
forte:
— Lula, você continua, como sempre, desinformado! Vá em frente!
Foi aí que Gilmar teve a prova definitiva de que tinha sido escolhido pelo PT
como símbolo da tentativa de desmoralizar o Judiciário.
O que tem deixado Gilmar Mendes mais indignado é que se considera vítima de
um bem articulado plano de difamação que corre não apenas pelas mídias sociais,
mas no mais antigo e eficaz meio de comunicação: o terrível boca a boca.
A conversa começou republicana, com Gilmar lembrando a Lula da necessidade de
se preencher as próximas duas vagas do Supremo com critérios bem técnicos e não
políticos. É que se suspeita de uma manobra para o mensalão ser votado só depois
da nomeação dos novos ministros. Gilmar defende o julgamento agora para evitar a
confusão e suspeição em que se revestiriam essas nomeações, até porque, sendo em
agosto, o tribunal não estaria desfalcado de dois ministros que conhecem bem a
matéria como os demais.
O assunto CPI começou quando Lula disse que a tinha sob comando e, numa prova
de que estava entre amigos, chegou até a confidenciar ter acertado nomeando
Odair Cunha ( PT -- MG) como relator:
— O Vaccarezza não seria uma boa solução. O seu poder de articulação é tão
grande, que ele acabou se envolvendo com parlamentares comprometidos com esses
esquemas.
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