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LUIZA VIEIRA, MARCIO DOLZAN , ESPECIAL PARA O ESTADO - O Estado de S.Paulo
Paralisações costumam ocorrer em setembro, data-base da categoria, e desde 2008 a maioria tem durado 15 dias
A greve dos bancários entra na segunda semana e ainda não tem previsão de
acabar. Se depender do histórico recente de paralisações do setor, a mobilização
deve durar pelo menos até o fim de semana.
O economista e pesquisador Fernando de Holanda Barbosa Filho, do IBRE/FGV,
comenta que as greves dos bancários costumam ocorrer em setembro, quando é
definido o dissídio da categoria. Esse seria o período ideal para tentar a
renegociação dos contratos.
"A situação econômica do país é boa neste momento, e favorável ao
trabalhador. Então o poder de barganha está maior." Nos últimos cinco anos,
foram cinco paralisações do setor - uma a cada ano. Elas passaram a ocorrer com
mais intensidade com o fim das fusões entre instituições bancárias. "Antes não
compensava para o funcionário fazer uma paralisação. O volume de demissões era
alto, e o momento não era propício."
Com a estabilidade, a greve se tornou uma boa opção para pressionar as
instituições a conceder os aumentos. Desde 2008, todos os acordos que puseram
fim às greves ficaram no meio-termo, tanto para os bancos quanto para os
funcionários.
Sócio do escritório LOBaptista-SVMFA, o advogado Fábio Chong, especialista em
causas trabalhistas, diz que, embora as greves sejam uma forma legítima de
protesto, elas deveriam ser uma opção somente em casos extremos, quando não há
mais o que ser negociado.
"A greve é apenas a consequência natural de reivindicações que dificilmente
serão atendidas. A negociação baseada na meritocracia me parece mais adequada
para assegurar ganhos financeiros ao empregado."
Em Brasília, está sob análise o projeto de lei do Senado 127/2012, de autoria
do senador Ciro Nogueira (PP-PI), que pretende enquadrar o serviço dos bancos
como essencial. Isso restringiria o direito de greve.
"A medida pode ser efetiva. Hoje o que a lei considera como serviço essencial
é apenas a compensação bancária, de forma que fica o sindicato desobrigado a
manter um atendimento mínimo nas agências, causando os transtornos conhecidos",
explica Chong.
Barbosa Filho avalia que o prejuízo é praticamente zero para a população. Ele
avalia que o dano maior é o desconforto causado pelo fechamento das agências.
A frequência com que as greves acontecem, aliás, poderia estimular um novo
comportamento dos bancos: a informatização em massa dos setores, que atualmente
acontece de forma gradual. "Não que seja uma regra, que a longo prazo o quadro
de funcionários chegue a zero. Mas, conforme as reivindicações fiquem mais caras
e a instituição comece a ter muitos prejuízos, a informatização dos serviços
pode se tornar uma opção mais interessante para os bancos."
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