Por José Roberto de Toledo - Estadao.com.br
A política brasileira, segundo Paulo Maluf (PP-SP): “Não há mais direita e
esquerda, o que há são segundos de TV”. Há uma inegável verdade na frase do
deputado predileto da Interpol. Mas ao não engolir a aliança do PT de Lula com o
PP de Maluf e renunciar a ser vice de Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São
Paulo, Luiza Erundina (PSB-SP) mostrou que nem sempre a Realpolitik conta mais
do que aversões pessoais e escrúpulos morais.
Se não tivesse abandonado a chapa de Haddad, Erundina teria provado que Maluf
está certo. Como esperneou e saiu, acabou lhe tirando a razão -ao menos no seu
caso pessoal. A deputada é a menos governista dos parlamentares do PSB. Vota com
o governo Dilma apenas quando concorda com as propostas. Vota contra quando
discorda. É anocronicamente “ideológica” no exercício do mandato. Mas é também
uma exceção. Vai ter fila para ocupar o lugar que ela deixou.
Se o adágio malufista vale para a imensa maioria dos políticos, e são os
segundos de propaganda que contam, então vamos contá-los.
A tendência de polarização PSDB-PT ficou mais evidente na mais recente
pesquisa Datafolha. Mas José Serra e Haddad estão em situações opostas. Os
segundos de exposição na TV a partir de agosto têm utilidade e peso muito
diferentes para cada um deles.
Praticamente todos os eleitores paulistanos conhecem Serra. Nos últimos dez
anos, ele se elegeu prefeito e governador, além de ter ficado em segundo lugar
em duas eleições presidenciais. Seu problema é ser conhecido demais: 32% dizem
que não votariam nele de jeito nenhum. O tucano precisa de propaganda para se
manter na cabeça do eleitor, mas não pode abusar da superexposição na TV, ou
pode se queimar.
O que importa mais para Serra é impedir que o desconhecido Haddad apareça
tanto na propaganda televisiva que acabe se tornando tão conhecido quanto o
tucano. Foi o que aconteceu com Dilma Rousseff na campanha de 2010. Embora ela
tivesse uma velocidade inicial maior do que Haddad, graças à propaganda
desabrida de Lula em palanques oficiais desde 2009, foi a partir da propaganda
de TV que Dilma deixou Serra para trás.
Por isso, os segundos malufistas são um problema para Serra não pelo tempo de
vídeo que ele “perdeu”, mas pelas inserções que Haddad ganhou. Pouco importa se
Serra cooptar o PTB e somar seus minutos. Não vai com isso compensar o que Maluf
deu a Lula e seu pupilo. Do mesmo modo, o desgaste provocado pela foto de Maluf
com Lula e Haddad é muito menor do que o potencial ganho que os segundos
malufistas trarão para o petista.
Diante de tantos ganhos, nem Lula nem Haddad pensaram -nem uma, muito menos
duas vezes. Quando a Realpolitik é tão avassaladora que abarca todo o espectro
partidário -com raras Erundinas-, caciques como Maluf, Valdemar Costa Neto (PR),
José Sarney (PMDB) e quetais só têm a ganhar -especialmente quando não são
candidatos e podem negociar o tempo de TV de seus partidos com aliados de
ocasião. Os preços são cada vez mais inflacionados.
Não há alternativa à vista, fora uma reforma política que jamais será feita
enquanto os principais interessados forem os donos do processo decisório. Não
reformarão nada relevante. Não importa quem esteja no governo, pois o sistema
ajuda a manter no poder quem já chegou lá. Foi desenhado para isso. Restam
medidas paliativas.
Uma delas seria mudar as regras de distribuição do tempo de propaganda
eleitoral na TV. Se um partido não tiver candidato, ele não deveria ter direito
a somar tempo para a coligação majoritária. Sem essa moeda de troca, as siglas
que aderem ao princípio malufista perderiam valor de mercado.
A mudança de uma pequena regra não muda a essência do sistema, como o gesto
de Erundina não transforma a Realpolitik. Mas, mesmo fugazmente, é divertido
atrapalhar os poderosos.
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