Por Celso Ming - O Estado de S.Paulo
O governo Dilma está especialmente aflito com o baixo desempenho do setor
produtivo que, neste ano, deve repetir o fraco crescimento do PIB obtido no ano
passado, de 2,7%, ou mesmo ficar abaixo disso.
Na tentativa de virar esse jogo adverso, a presidente Dilma Rousseff vem
usando instrumentos nem sempre coerentes. De um lado, parece acreditar no
simples encorajamento - como fazem por vezes os sargentos quando querem mais
empenho do destacamento. É assim quando apela, por exemplo, para a reativação do
instinto animal do empresário.
Outras vezes, envereda para o caminho das ameaças. É o caso dos banqueiros,
forçados a acelerar o crédito e a derrubar os juros, mesmo quando os índices de
inadimplência mostram que o consumidor está excessivamente endividado e enfrenta
dificuldades para continuar honrando compromissos financeiros. Diante disso, os
banqueiros vêm reagindo de dois modos. Tanto anunciam alguma redução de juros
como, também, não mexem no essencial. São cavalos que fingem que bebem ou que,
simplesmente, não bebem a água para cujos reservatórios são conduzidos - já
advertira no início deste mês o economista-chefe da Federação Brasileira de
Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg.
Na avaliação da conjuntura, o governo também é dúbio. Às vezes, realça o que
vê como bom momento da economia. E, nessas condições, aponta para o baixo nível
do desemprego, que em abril caiu para 6,0%, ou para o forte avanço do consumo,
entre 5,0% e 6,0% neste ano. Em outras oportunidades, aponta para o horizonte
cor de chumbo e alerta para turbulências que ameaçam toda a economia mundial,
inclusive a do Brasil. Além do agravamento da crise global, a guerra cambial e
os tsunamis monetários são alternadamente evocados para justificar o baixo
resultado do setor produtivo.
Esse discurso bifurcado parece gerar mais dúvidas do que certezas. Todo o
mundo vê que o consumo turbinado não guarda relação com a atividade produtiva,
porque o PIB, já ficou dito, se arrasta a duras penas, especialmente quando
provém da indústria.
Por outro lado, todos sentem que os apelos retóricos à ambição por lucros do
empresário, sem a contrapartida da derrubada corajosa dos custos, não têm
fôlego. Os pacotinhos de estímulo são endereçados a alguns favoritos ou a
setores que se notabilizam pelo seu poder de grito. Esses são os vencedores, os
mesmos que são agraciados com as batatas: alguma redução de impostos e créditos
favorecidos do BNDES. Aos demais, sobram as cascas de sempre: políticas
improvisadas e sem nexo; alta carga tributária; quarta tarifa mais cara de
energia elétrica vigente no mundo; mesmos juros escorchantes no capital de giro;
mesma precariedade da infraestrutura; Justiça que leva anos para dirimir um
conflito de interesses; burocracia exasperante dos serviços públicos... e por aí
vai.
O ministro Guido Mantega prefere realçar o que entende como grandes avanços
da administração pública em direção aos juros mais baixos e ao câmbio
desvalorizado. O problema está em que, sem forte empurrão que só as reformas
proporcionarão e sem uma decidida ação rumo à redução do custo Brasil, essas
mexidas não se sustentam, não lançam alicerces para os investimentos do setor
privado e passam a impressão de que a economia está se desarrumando.
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