Do ESTADAO.COM.BR
Alana Rizzo, de O Estado de S. Paulo
Empresa de fachada repassou verba a pessoas jurídicas doadoras em 2010;
Perillo foi beneficiado
BRASÍLIA - O rastreamento do dinheiro injetado pela Delta Construções em
empresas de fachada, segundo a Polícia Federal, e ligadas ao esquema do
contraventor Carlos Cachoeira, revela que a empreiteira carioca montou um
“deltaduto” para irrigar campanhas eleitorais. A CPI do Cachoeira, que será
instalada na quinta-feira, 19, no Congresso, vai investigar os negócios do
contraventor e seus elos com a construtora e políticos.
Empresas que receberam recursos da Alberto e Pantoja Construções Ltda., cuja
única fonte de renda identificada pela Polícia Federal era a Delta Construções,
abasteceram cofres de campanhas em Goiás, área de influência da organização
criminosa de Cachoeira.
Segundo as investigações da Operação Monte Carlo da PF, a construtora de
fachada (a Alberto e Pantoja) registrou operações atípicas durante o ano
eleitoral, período em que movimentou R$ 17,8 milhões.
Duas empresas, que embolsaram R$ 210 mil da Pantoja, doaram R$ 800 mil a
candidatos. Entre eles, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o
deputado federal Sandes Júnior (PP-GO), ambos citados nas investigações da PF
por supostas relações com a quadrilha.
Registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, um mês depois das
eleições, Perillo recebeu R$ 450 mil da Rio Vermelho Distribuidora, de Anápolis
(GO). A empresa também doou R$ 30 mil para a candidata a deputado federal Mirian
Garcia Sampaio Pimenta (PSDB).
A Rio Vermelho é citada em laudos da PF que mostram, a partir da quebra de
sigilo bancário, transferências feitas pela Alberto e Pantoja em 2010 e 2011. O
atacadista recebeu R$ 60 mil da empresa, que tem como procurador Geovani
Pereira, homem de confiança de Cachoeira.
De acordo com a Rio Vermelho, a doação para Marconi foi legal e está
registrada no TSE. Com relação ao repasse da Alberto e Pantoja, a empresa afirma
que o valor é referente à venda de um carro para Cachoeira.
Marconi Perillo. Este não é o primeiro elo entre o
governador de Goiás e as investigações da Monte Carlo. A então chefe de gabinete
de Perillo, Eliane Pinheiro, pediu demissão depois que escutas telefônicas
mostraram a servidora passando informações sigilosas sobre as operações
policiais que tinham como alvo o esquema do contraventor. Perillo, que já
confirmou ter se encontrado com Cachoeira, também é citado em conversas de
integrantes da quadrilha que mostram a influência do grupo em seu governo,
incluindo nomeações para cargos-chave.
Doadora de R$ 300 mil para a campanha do deputado federal Sandes Júnior (PP),
a Midway International recebeu R$ 150 mil da construtora investigada pela PF. A
empresa de suplementos alimentares transferiu o dinheiro em duas parcelas de
mesmo valor (R$ 150 mil) em 22 e 28 de setembro de 2010.
Sandes Júnior também é citado em grampos da Monte Carlo. A Midway doou ainda
R$ 20 mil para o ex-senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO).
Wilton Batos Colle, da Midway, informou que pediu um empréstimo para uma
empresa de Anápolis para fazer a doação. “Queria doar dinheiro para um grande
amigo nosso, o deputado Sandes Júnior, mas estávamos sem dinheiro no caixa
naquela época.” Segundo o empresário, a empresa escolhida para a operação foi a
Libra Factoring, de um irmão de Cachoeira, também investigada no inquérito da
PF. “Foi uma operação legal e declarada. Só não sabíamos que quem estava fazendo
o negócio era essa Pantoja”, argumentou.
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