Por ALBERTO TAMER - O Estado de S.Paulo
As recomendações do FMI para o Brasil, divulgadas no seu Panorama Econômico
Mundial, são pouco inovadoras e estão no mínimo atrasadas. O Fundo pede cautela
com a política monetária para evitar um superaquecimento da economia, que não
existe e só ele vê. Há ainda a contradição de recomendar ao Brasil e aos países
emergentes maior concentração de esforços na expansão do mercado interno, pois
não devem contar com um crescimento de apenas 3,5% da economia e do comércio
mundial este ano, mas, ao mesmo tempo alertam para os riscos do
"superaquecimento"...
"Os emergentes devem estimular a demanda interna, mas evitar um
"superestímulo" à atividade econômica," diz o Fundo, textualmente.
Cabem aos países desenvolvidos crescer, acrescenta, mesmo sabendo que, à
exceção dos Estados Unidos, eles não estão fazendo nada; ao contrário, adotaram
políticas que levam à recessão.
E nós? Vejam só. No caso do Brasil, o FMI recomenda cautela com o corte de
juros porque podem exacerbar a demandar e provocar "reaquecimento..." "O crédito
elevado e o crescimento das importações sugerem que os riscos de
superaquecimento não estão completamente sob controle e poderiam ressurgir se o
fluxo de capital retornar aos níveis anteriores,"afirma textualmente o Fundo.
Mas ele não está prevendo um crescimento do PIB de apenas 3% este ano? Onde
está o risco de "superaquecimento?" Há muita contradição nisso tudo.
Atrasado. Tudo indica que a análise e alertas do FMI se baseiam em fatos
passados que há muito deixaram de existir. Não há no segundo trimestre do ano,
nenhum, absolutamente nenhum sinal de "superaquecimento" no Brasil. Ao
contrário, está evidente que as políticas monetária e fiscal no fim do ano
passado foram de tal forma restritivas, que a economia simplesmente estagnou nos
últimos meses.
A previsão do BC, quase sempre correta, é de que, em fevereiro, o PIB
"cresceu" apenas 0,23%; no bimestre janeiro-fevereiro de 2011 e 2012, nada mais
que 0,08%. Onde estão os riscos de "superaquecimento"que os economistas do Fundo
estão vendo no Brasil?
É evitar a recessão. Ao contrário do que eles afirmam, o desafio atual do
governo é crescer um pouco mais para evitar a recessão. Já estamos tendo um
trimestre negativo, como mostram os indicadores preliminares de março.
O próprio Fundo admite em seu relatório que as taxas agora estimadas para
este ano e o próximo são apenas 0,1% (erro estatístico como aquele 0,08%?) acima
das projetadas em janeiro. Ou seja, estagnação.
De novo a pergunta que não se cala: onde estão os riscos de superaquecimento
que exigem "cautela?" A inflação? Ora, ela até desacelera auxiliada pelo câmbio.
Não deve passar de 5% este ano, está em torno de 4,5%, o que, afirmam
economistas respeitáveis como Paul Krugaman, não é de todo indesejável em
economias ameaçadas pela recessão, nas quais a proridade é crescer.
É preciso ousar mais. Ao contrário do que o FMI preconiza, a equipe econômica
precisa ousar mais. É evidente que as medidas tributárias e fiscais adotadas nos
últimos meses não foram suficientes para retomar o crescimento. A redução dos
juros sozinha não bastou.
O que falta? Mais investimentos do governo para complementar os do setor
privado, que enfrenta crescentes probelmas internos. Falta uma política
comercial e industrial menos dispersiva que não podem estar separadas. E aqui o
papel do Estado é essencial. Tudo indica que os governos federal, estadual e
municipal investem pouco não tanto por fata de recursos, mas pelos entraves
burocráticos.
Que venham os tsunamis. O que o Brasil precisa no momento é mais incentivo
não só à demanda interna, que ainda sustenta a economia, mas investimentos
internos e externos também. Que venham os tsunamis de dólares que irrigam a
economia, criam empregos e produção. Estariam muito mal sem eles, agora que a
outra fonte de recursos, a balança comercial, definha.
E continuarão vindo, sim, não por causa do aumento de liquidez externa, mas
simplesmente porque o Brasil se imunizou contra crises financeiras e tem há anos
uma política econômica consistente e confiável.
Comentários:
Postar um comentário